O Projeto BELÉM PAPA CHIBÉ representa um importante marco para a compreensão e valorização do setor gastronômico da capital paraense. Por meio de um amplo levantamento e análise detalhada, buscamos mapear a dinâmica desse setor, que desempenha um papel fundamental na economia e na cultura local. Com um universo de quase sete mil estabelecimentos dedicados à gastronomia, Belém se consolida como um dos principais polos da culinária brasileira, refletindo tanto a diversidade cultural da região quanto sua relevância no cenário econômico.
A pesquisa revelou que a maior parte dos estabelecimentos gastronômicos da cidade funciona em espaços alugados e tem até cinco anos de existência, o que indica um setor dinâmico, mas também suscetível a desafios relacionados à sustentabilidade dos negócios a longo prazo. Dentre esses estabelecimentos, aproximadamente 88,8% têm como atividade principal a comercialização de refeições, com uma predominância do tradicional prato feito – composto por feijão, arroz e proteínas –, representando 35% do total de restaurantes. Em seguida, destaca-se a culinária regional, com o emblemático açaí acompanhado de peixe frito, presente em 14% dos estabelecimentos, e a tradicional oferta de tacacá, vatapá e maniçoba, que compõem quase 12% do setor.
No segmento de bebidas, que responde por cerca de 11% dos estabelecimentos gastronômicos de Belém, os tradicionais bares e botecos se destacam, representando 55% do total, seguidos pelos bares em estilo americano, com 15%, e pelos PUBs, que correspondem a 9% do setor. Esse panorama evidencia a forte presença da cultura de socialização por meio da gastronomia, fortalecendo não apenas a economia, mas também os laços sociais da população belenense e dos visitantes que buscam experiências autênticas na Cidade Criativa da Gastronomia.
O impacto socioeconômico do setor gastronômico é expressivo, empregando cerca de 51 mil pessoas, a maioria em regime formal e com qualificação na manipulação de alimentos. O faturamento médio dos estabelecimentos gira em torno de R$ 40 mil, com uma margem de lucro média de 17,3%. No entanto, apesar desse potencial econômico, um dos desafios identificados é o limitado acesso a crédito por parte dos empreendedores do setor. Embora a maioria dos estabelecimentos esteja inserida no sistema bancário, apenas 18% têm acesso a linhas de crédito para novos investimentos e capital de giro, o que limita sua capacidade de expansão e aprimoramento. Esses são apenas alguns dos resultados da pesquisa desenvolvida neste projeto inovador.
O Projeto BELÉM PAPA CHIBÉ surge, portanto, como uma iniciativa essencial para compreender e fortalecer o setor gastronômico da capital paraense. Ao oferecer um diagnóstico detalhado e georreferenciado sobre os estabelecimentos, suas espacialidades e suas necessidades, o projeto não apenas auxilia gestores públicos e empreendedores a tomarem decisões mais assertivas, mas também contribui para a valorização da culinária paraense e o fortalecimento de Belém como um destino gastronômico de referência. Acreditamos que, com informações precisas e políticas públicas adequadas, é possível impulsionar ainda mais esse setor estratégico, promovendo desenvolvimento econômico, geração de empregos e a preservação da identidade cultural amazônica.
Márcio Ivan Lopes Ponte de Souza
Diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural
Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas – FAPESPA